terça-feira, 28 de dezembro de 2010
Transportes intermunicipais não atendem à demanda
Ônibus lotados, banheiros sujos, "pinga-pinga" nas paradas dificultam as viagens para o interior
Limoeiro do Norte. É quando está em transporte público que o cearense mais deseja possuir um carro próprio. Não bastassem os ônibus abarrotados entre os bairros de Fortaleza, o problema de quem utiliza ônibus intermunicipal é prolongado por quilômetros e horas.
Sem atender à demanda de passageiros como exige a lei nem mesmo nos períodos tranquilos, o transporte público entre cidades torna-se um caos maior nas últimas semanas do ano. Da desorganização na venda de passagens, de assaltos e ao mínimo de higiene nos banheiros, os usuários de linhas de ônibus intermunicipal enfrentam uma dramática procissão sobre rodas.
O problema do serviço de transporte público entre os Municípios do Ceará é evidente em qualquer período do ano, não somente nos feriados de fim de ano e no Carnaval. A reportagem constatou as dificuldades já na compra da passagem: os nomes dos passageiros são anotados em um bloco de papel, e uma impressora matricial libera as passagens.
A viagem tem início ao meio-dia, com destino a Flores, em Russas, depois a sede desse Município, e em seguida algumas paradas para subida e descida de passageiros, até parar em Fortaleza, cerca de 3h45 depois. Uma placa informa que a lotação deve ser de 46 passageiros sentados e até nove em pé. Mas foram contabilizados 29 passageiros em pé, incluindo idosos e crianças.
O Detran só permite passageiros em pé em viagens de até 200 quilômetros e somente em períodos atípicos, ou seja, feriados e períodos de Natal, Revéillon e Carnaval.
O limite para passageiros em pé é de 20% do número de assentos. Na viagem feita pela reportagem, no meio da semana e antes do período natalino, não deveria haver passageiros em pé. "Isso é um absurdo, o ônibus já tá lotado e eles continuam parando na estrada para subir gente", reclamou Francineide Gomes, de Russas, imprensada no corredor com sua bolsa.
O cobrador não disfarça a agonia. Precisa caminhar por entre um labirinto de gente para fazer nova conferência das passagens. A situação é mais dramática quando alguém nos fundos precisa descer antes de todo mundo. Aqui é o "pinga-pinga", afirma o motorista na segunda viagem do dia entre Limoeiro do Norte e Fortaleza.
É como chama os ônibus que param em vários lugares, em pequenos terminais ou mesmo na beira da estrada. Com medo de perderem o emprego, os motoristas e cobradores ouvidos pediram para não serem identificados. Há duas semanas um ônibus da empresa São Benedito foi assaltado nas proximidades da cidade de Russas. O homem subiu na beira da estrada com uma arma enrolada em um jornal e no meio do caminho anunciou assalto.
Logo no início da viagem o banheiro exalava cheiro de urina. Como o ambiente é fechado para condicionar o ar para frio, o mal cheiro se espalha. Um passageiro reclama e o cobrador coloca spray de perfume para resolver o problema. "Tinha que ter desabastecido o banheiro antes da viagem", confessa, em reclamação à equipe que teria comandado a viagem anterior. Os passageiros não fazem cerimônia para reclamar.
Constrangimento
A professora Ilnar Maia reclama ter passado por um constrangimento. No terminal rodoviário de Messejana embarcou num ônibus para Limoeiro com uma sobrinha de 8 anos de idade. Na entrada não lhe solicitaram nem o documento da criança tampouco a passagem. "Só no meio da viagem vieram me informar que tinha que pagar a passagem da criança. E o ônibus estava tão lotado que uma moça subiu com uma criança de colo e ficou sentada ao lado do motorista", lamenta ela.
Retorno
Para retornar a Limoeiro, no estande da empresa de viação São Benedito, na Estação Rodoviária Engenheiro João Tomé, não se sabe se a fila é única, não há qualquer indicação. A vendedora no guichê diz que sim, mas não manda retornar um usuário que entrou sem pegar fila nem apresentava qualquer indicativo de que não precisasse esperar (o benefício se dá para gestantes, lactantes, pessoas com crianças no colo, idosos e deficientes físicos). Os passageiros se (des)organizam na frente da venda de passagens e não é rara a discussão sobre quem chegou primeiro no atendimento.
Na compra da passagem, a atendente solicita o nome do passageiro, mas não pede a carteira de identidade - a solicitação foi feita em somente uma das viagens. O ônibus sai da rodoviária, segue para Messejana. Novos passageiros em pé vão se acumulando no corredor.
E o ônibus vai "pingando" em busca de passageiros. A situação só ameniza quando chega em Russas, onde há desembarque de dezenas de passageiros e alguns outros sobem, para uma viagem que, se não seguir para Quixeré ou Tabuleiro, tem fim em Limoeiro do Norte.
O Ceará se orgulha de ter uma das menores tarifas de ônibus por quilômetro rodado. Significa que o passageiro paga menos por quilômetros rodados do que em outros Estados. Mas ter ônibus não significa qualidade de serviço. Que o digam os moradores do Distrito de Itapebussu, em Maranguape.
De acordo com o comerciante José da Silva Souza existe apenas uma linha para atender cerca de 15 mil habitantes. A linha que vem e vai para Fortaleza passa por vários distritos: Boqueirão, Lagoa do Juvenal, Manoel Guedes, Antonio Marques e Itapebussu. A situação complica mais para pessoas que trabalham em Fortaleza e moram nessas áreas da Região Metropolitana.
O Detran admite que o serviço de ônibus intermunicipal nessa região é um dos mais precários do Ceará, os ônibus são velhos e menos seguros.
"Uma nova licitação no ano que vem vai permitir que haja uma mudança nessa situação, porque o Detran vai exigir que só sejam utilizados ônibus novos e obedecendo a todas as normas de segurança", afirmou o engenheiro Joaquim Rolim, do Núcleo Técnico do Detran.
De acordo com Fábio Pereira, gerente de tráfego da São Benedito, para este período a empresa aumentou em quase 50% a frota de veículos para atender à demanda
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