terça-feira, 18 de outubro de 2011

IJF funciona no limite da capacidade máxima


Em 79 anos de história, os problemas no Instituto Doutor José Frota (IJF) são recorrentes. Unidade superlotada, com macas espalhadas pelos corredores e atendimento precário. Para se ter uma ideia, segundo a direção do hospital, 47 pacientes estão nos corredores da unidade. Desses, 66% são pessoas acima de 65 anos, vítimas de traumas. Dos 405 leitos, 70% são ocupados por pessoas envolvidas em algum tipo de acidente de trânsito e 52% são pacientes provenientes do Interior.

O quadro demonstra que o Frotão, referência no atendimento de traumas, continua sobrecarregado, operando na sua capacidade limite. Casemiro Dutra, diretor executivo do IJF, explica que, inicialmente, a unidade foi criada para atender o fortalezense, mas está se firmando como hospital terciário de pronto atendimento.

Para diminuir a sobrecarga, ele sugere que sejam construídos hospitais no Interior, o que daria maior autonomia às regiões. "Na medida que a gente divide esse atendimento terciário, encurta as distâncias que o paciente tem de percorrer e melhora a qualidade do atendimento", frisa.

Drama

A dona de casa Maria Eliane Martins, 59 anos, desde a última sexta-feira está acompanhando a mãe, de 84 anos, que sofreu uma queda e fraturou o fêmur. Ela é uma das 47 pessoas que estão nos corredores do Frotão, em condições precárias, aguardando por uma cirurgia. "É muita gente para ser atendida, vindo de todo canto, por isso fica difícil ter um bom atendimento. Tem muita gente nos corredores, porque falta enfermaria. Os governantes deveriam investir mais na saúde pública, pois está um descaso".

A agricultora Santana Rodrigues de Oliveira, 38 anos, de Pacajus, estava ontem, do lado de fora da emergência, com seu companheiro, o auxiliar de produção Ademilson Ferreira da Silva, 24 anos, que no último domingo sofreu um acidente de moto. Eles chegaram ao hospital às 23 horas, mas na manhã de ontem, ainda não haviam sido atendidos. Santana conta que foi ao IJF, porque além de ser um hospital referência, é a única opção que possuem, mas reclama que o atendimento deixa muito a desejar.

Dutra explica que existem dois pilares de pacientes no IJF: o jovem que se acidenta, principalmente de moto; e o idoso acima de 65 anos, que sofre de queda da própria altura e geralmente quebra o fêmur.

Nesse último caso, um agravante é que são pacientes com várias patologias associadas, como hipertensão, diabetes e osteoporose, que demandam maior atenção. Entre as pessoas vítimas de acidentes de trânsito, 60% possui entre 15 e 45 anos e compõem a população economicamente ativa.

"São pacientes graves, que normalmente saem com sequelas e vão engrossar as fileiras do sistema previdenciário brasileiro. Até os 70 anos, o governo irá bancar esse paciente, o que é um problema que precisa ser trabalhado", alerta o diretor executivo. Ele destaca que algumas soluções para a saúde e para o IJF não estão no hospital, mas na sociedade, na maneira de se conviver e de se portar no trânsito. "Nesses 79 anos, o José Frota vem fazendo o trabalho dele. Já salvou milhares de vidas e vai continuar salvando, tentando cada vez melhorar".

Após 11 anos trabalhando no IJF, o médico otorrino Alan Melk, avalia que, em termos de demanda, a situação do Frotão piorou bastante, em virtude do aumento da frota de motos, do alcoolismo e porque os hospitais do interior continuam levando pacientes para o Frotão sem necessidade, que não são do perfil da unidade. "Fica difícil fazer um atendimento de boa qualidade numa situação dessas. A população não enxerga isso e acaba culpando primeiramente os médicos e até mesmo o corpo de enfermagem, que é quem está diretamente lidando com eles".

Para desafogar o Frotão, o médico afirma que seria necessário a construção de um novo hospital de emergência em Fortaleza ou na Região Metropolitana. "Já está provado que só a reforma que foi feita na emergência não foi muito efetiva em termos de diminuir a demanda de pacientes".

Melk sugere que seja feito um investimento maior em materiais, para que os profissionais possam trabalhar com maior qualidade. "Faltam alguns materiais e uma campanha de conscientização, para prevenir os acidentes de trânsito".

Demanda

70% Dos 405 leitos são ocupados por pessoas envolvidas em algum tipo de acidente de trânsito e 52% são pacientes provenientes do Interior

OPINIÃO DO ESPECIALISTA
O Estado precisa de ´outro Frotão´

Depois de 18 anos trabalhando nesta instituição, o que eu posso avaliar é que o IJF é um hospital que tem papel fundamental para a população de Fortaleza, do Ceará como um todo, e até de outros Estados, porque alberga um volume grande de pacientes que são trazidos desses locais e é o suporte que a população tem de bom. Mesmo com todas as dificuldades que o sistema público de saúde possui, é um escape grande, um presente, digamos assim, que a população tem para poder usufruir dos bens da saúde, se é que a gente pode dizer que eles existem.

O Frotão, o corpo de funcionários faz de tudo para atender a todos. Para melhorar, talvez fosse preciso que tivesse no mínimo outro IJF em Fortaleza ou na Região Metropolitana, porque, sozinho, o Frotão "dá conta", entre aspas, "dá conta" na medida do possível. Se tivesse outro, não vou dizer que ficaria tranquilo, mas ajudaria bastante a desafogar o hospital, e até para melhor atender a população.

Fernando Delgado
Chefe de equipe do IJF

EMERGÊNCIA
Unidade não dispõe de heliponto

Um ponto que preocupa a população e chama atenção pela morosidade é o heliponto do Instituto Dr. José Frota. Ele começou a ser construído em fevereiro de 2008, com prazo para término de três meses. Porém, três anos e sete meses se passaram e até o momento o heliponto ainda não foi entregue. Em casos de emergência, que seja necessário o salvamento aéreo, o local de pouso continua sendo a Praça Clóvis Beviláqua.

Ontem, a direção do hospital informou que 85% do heliponto está concluído, mas ainda resta a construção da rampa de acesso e a montagem dos elevadores. A direção do Frotão aguarda que o Ministério da Saúde libere a última parcela de recursos financeiros.
DN:

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