terça-feira, 20 de dezembro de 2011

HGF tem 86 pacientes no corredor


Um novo ano se aproxima, mas a situação do Hospital Geral de Fortaleza (HGF) continua crítica. A unidade ultrapassou em 87,7% a capacidade dos 98 leitos ofertados na emergência. Ontem pela manhã, 86 pacientes estavam instalados nos corredores. O fato já se tornou, inclusive, motivo de piada entre os usuários, que ironicamente batizaram o corredor de "piscinão".

O agricultor Francisco Rodrigues de Sales, 63, veio do município de Alto Santo, situado a 230 Km de Fortaleza, acompanhar a esposa que no início do mês sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Logo que chegaram à unidade foram bem atendidos, mas sempre numa maca no corredor, onde permanecem até o presente momento.

Desconforto

A agricultora Maria Joelma de Sousa, 42, se reveza com Francisco e conta que ficou com medo que transferissem sua amiga para outro hospital por causa da superlotação. "É muita gente. Quando penso que a emergência está ficando vaga, de repente ela lota". Outro problema que relata é com relação aos acompanhantes, que não têm onde ficar. Muitos passam a noite numa cadeira de plástico.

Situação semelhante vive a professora Eurenice dos Santos, 36, do município de Palhano, situado a 127 Km de Fortaleza. Na última sexta-feira, a sua mãe, de 77 anos, sofreu um AVC. Como o hospital da cidade não tinha médico, teve de ir para Russas, onde foi encaminhada para o HGF. Chegaram às 19h e realizaram todos os exames necessários, mas tudo numa maca no corredor.

Somente após sofrer novo AVC, no último domingo, conseguiu vaga em um leito. Eurenice afirma que medicamentos e exames não faltam e que o atendimento também é bom, o problema é o desconforto do doente em ficar no corredor. "A pessoa já está debilitada e ainda tem que ficar numa maca nesta situação. É muito ruim".

O motorista Osmundo Carlos Pedrosa, 45, lamenta que seja preciso chamar a imprensa para que o poder público atente para a situação. Ele defende que o número de leitos deveria aumentar, já que os existentes não estão dando conta. "A quantidade de gente que vem do Interior é enorme, por isso quando chegam ficam nessas condições pelos corredores. É triste".

Osmundo acrescenta que os médicos e enfermeiros até se compadecem, mas nada podem fazer, pois a iniciativa tem que partir da direção, que não toma nenhuma providência.

Deficiência

O coordenador geral da emergência do HGF, Romel Araújo, afirma que a emergência do setor terciário sofre pela falência da atenção primária e secundária, que não está fazendo o seu papel. O médico esclarece que os municípios com gestão plena têm obrigação de organizar o sistema de saúde na atenção primária, secundária e terciária. O problema é que eles não fazem e acabam sendo encaminhados para o HGF.

Segundo afirma, cinco hospitais são responsáveis por sustentar a saúde no Ceará: Hospital Geral de Fortaleza (HGF), Hospital São José, Instituto Dr. José Frota (IJF) e Hospital Infantil Albert Sabin (Hias). Araújo enfatiza que o número de leitos de clínica médica em Fortaleza é irrisório se levado em conta uma população de quase dois milhões e 600 mil habitantes. Além disso, não são resolutivos.

Essa semana, o governo estadual liberou R$ 13 milhões ao HGF, sendo R$ 11 milhões do tesouro do Estado e R$ 2 milhões oriundos do governo Federal. A verba é para pagar fornecedores, recursos humanos e compra de materiais de insumos para fechar o orçamento deste ano.

A emergência do HGF realiza mensalmente de quatro a cinco mil atendimentos. Somente em novembro, mais de cinco mil pessoas foram atendidas. A maioria, destaca Araújo, não é do perfil do hospital, que só deveria atender pacientes de alta complexidade. "Temos mais leitos clínicos nos corredores dos hospitais terciários do que em hospitais secundários", dispara o coordenador geral da emergência do Hospital Geral.

Romel Araújo destaca que se os gestores municipais não se organizarem e tornarem o sistema de saúde resolutivo, daqui há dez anos estes mesmos problemas acontecerão.

Alerta

87% acima da capacidade. Neste momento, o Hospital Geral de Fortaleza (HGF) ultrapassou o limite de atendimento dos seus 98 leitos da emergência

LUANA LIMA
REPÓRTER

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