domingo, 24 de outubro de 2010

Leptospirose faz vítimas no CE


Para cada três casos confirmados da doença, neste ano em Fortaleza, houve um óbito

A aposentada Francisca Xavier, de 69 anos, fez, durante anos, o que muita gente pensa que é o correto no combate aos ratos: foi na bodega mais próxima de sua casa, no Jardim Iracema, comprou chumbinho e encheu a casa de armadilhas para erradicar a praga. Não só não deu em quase nada - apenas pegou alguns, perto de sete ratazanas - como matou seu gato envenenado e foi parar no Frotinha do Antônio Bezerra, depois que foi mordida por um dos gabirus que "habitam" seu imóvel, com suspeita de leptospirose.

A doença, por sinal, vitimou 281 pessoas no Ceará no ano passado, levando nove a óbito. Um verdadeiro surto que levou as autoridades sanitárias a fortalecer as ações de desratização, principalmente nas áreas de risco da Cidade, na periferia e próximas de rios, lagos e lagoas. Neste ano, os casos diminuíram. Até outubro, a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) confirmou 25 casos. Do total, Fortaleza registra dez.

Estatística

O problema, apontam os infectologistas, é a letalidade da doença. Seis pessoas morreram neste ano. Três em Fortaleza. O que deixa em alerta as autoridades sanitárias. "Ou seja, em cada três casos, uma pessoa morreu. Bastante grave", avalia o médico Galbo Marques, do Centro de Controle de Zoonoses, da Prefeitura de Fortaleza (CCZ).

Outro problema apontado pelo infectologista e diretor do Hospital São José, Anastácio Queiroz, é que, como os sintomas da leptospirose se confundem com os da gripe ou dengue, as pessoas ficam cuidando com remédios caseiros e só procuram o posto médico quando o quadro clínico está avançado.

Foi o caso de uma família que perdeu neste ano um ente querido por causa da doença. "Meu irmão teve contato com água contaminada pela urina de ratos, não se deu conta - quando começou a sentir febre, dor de cabeça e dor na batata da perna - que era leptospirose. Quando o levamos para o São José, já foi tarde", conta José (nome fictício), parente da pessoa que morreu no início do ano. "Eu peço para não dizer o meu nome ou o de meu irmão. Basta a dor de perdê-lo", emociona-se.

Incômodo

Segundo o CCZ, bairros como Bom Jardim, Montese, Planalto Pici, Cambeba, Jardim Iracema e Pirambu chamam a atenção pelo número de casos, muitos ainda sem confirmação, e de reclamações por parte da população, incomodada com o aumento do número de ratos.

O baixo índice pluviométrico e as ações de combate aos ratos de 2009 contribuíram, no entender da médica Maria de Nazaré Araújo, para a diminuição do número de casos. No entanto, alerta, é preciso ficar atento para a letalidade da doença. "Ela está matando mais", afirma.

A preocupação é que está chegando mais uma quadra chuvosa no Estado e isso leva à intensificação do combate e à prevenção da doença. "Nos meses de outubro, novembro e dezembro, período que antecede as chuvas, essas ações são ampliadas". Os ratos, diz ele, só precisam de água, alimento e abrigo. "Devemos cortar esses fatores e evitaremos sua propagação em nossa Cidade".

De acordo com dados divulgados pelo boletim da Sesa, a doença acomete, em especial, trabalhadores ligados à agricultura e à pecuária (37%), além de estudantes (14,8%) e donas-de-casa (11,1%).

A população masculina é a mais atingida pela doença, com 85,8% dos casos, e a incidência maior está na faixa etária de 20 a 49 anos. Se os ratos fossem, assim, tão fáceis de derrotar, eles não seriam um dos inimigos mais antigos - e odiados - da humanidade. Segundo o zoólogo americano Anthony Barnett, já faz dez mil anos que tentamos nos livrar deles. "Convivemos com os roedores, pelo menos, desde que a agricultura começou", diz Barnett, professor emérito da Universidade da Austrália e autor do livro "A História dos Ratos".

Habilidade

Graças à diversidade existente entre eles, as três espécies de ratos adaptadas ao homem ocupam hábitats diferentes e acabaram por cobrir praticamente todas as possibilidades de convívio humano existentes: camundongos, por exemplo, dão preferência a lugares fechados (como um armário).

Ratos de telhado são encontrados normalmente no ambiente que lhes dá o nome. Já as ratazanas costumam cavar buracos no chão e possuem uma habilidade impressionante para caminhar nesses túneis.

O importante, reafirmam especialistas, é não tentar combatê-los usando o chumbinho, que, atualmente, denuncia o farmacêutico José Ferreira, é potencializado nos quintais de casa, misturado a outros venenos. "Isso é um crime ambiental e que traz consequências gravíssimas para o ser humano, além de não exterminar os ratos".

ATENÇÃO

25
É o total de casos confirmados da leptospirose no Ceará neste ano. Do total, seis morreram. Em 2009, foram 281 confirmações da doença no Estado, com nove mortes

10
Casos confirmados da leptospirose em Fortaleza neste ano, com três óbitos. Ou seja, em cada três ocorrências, uma morte em dez meses deste ano. Número preocupa sanitaristas

ANIMAIS PEÇONHENTOS
Casos têm aumento de 30% ao ano

Cobras e escorpiões estão entre os animais peçonhentos que mais vitimam no Ceará. Entre as serpentes, segundo dados da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), o maior número de agressões é da jararaca, que só neste ano fez três vítimas nos municípios de Catarina, Tauá e Ipueiras, no Interior.

O responsável pelo Centro de Assistência Toxicológica (Ceatox), do Instituto José Frota (IJF), Joaquim Gonçalves Neto, informa que os ataques de animais peçonhentos, principalmente o escorpião, aumentaram 30% somente nos seis primeiros meses de 2010. Os números confirmam, diz ele - somente considerando os escorpiões da espécie "Tityus stigmuros", a mais comum em Fortaleza -, que houve 739 vítimas em 2009. "Até outubro deste ano, já são 519 casos", aponta.

A preocupação com esse tipo de intoxicação levou a Sesa a promover, na última sexta-feira, capacitação em tratamento descentralizado do paciente vítima de acidentes com animais peçonhentos e prevenção de agravo. O evento ocorreu no Hotel Mareiro e reuniu médicos e enfermeiros.

Animais peçonhentos são aqueles que produzem substância tóxica e apresentam um aparelho para inoculação do veneno como ferrões ou aguilhões. Os acidentes com serpentes são os mais graves, explica o médico e coordenador do Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciat), do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), José Ambrósio Guimarães. Para ele, a medida mais importante é a prevenção, como uso de botas nas atividades rurais, onde as agressões das serpentes são bem mais comuns.

Com relação aos escorpiões, o aconselhável é colocar telas nos ralos de pias e evitar lixo sem acondicionamento dentro ou fora de casa. "O escorpião busca alimento e as baratas e insetos são alvos". Segundo o especialista, crianças com menos de sete anos e idosos com doenças crônicas correm mais riscos de ter complicações

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